quarta-feira, 2 de maio de 2012

28.04.2012 – Rishikesh

Acordei tarde, saí e vi que Inci já havia saído, sabia que suas aulas de yoga eram 5 da manhã mas que voltava no máximo ás 7, mas como eram quase 10 logico que ela não ficaria esperando a Bela Adormecida. Então deixei um recado com o Kurmar (dono do hotel) e fui na agência próxima usar a internet e perguntar sobre o ônibus para Dhramsala, chegando lá e de cara a má noticia... “eu vi para você o ônibus para Dharamsala mas está esgotado, só tem em 2 de Maio” pôôô de novo essa m... de problema com passagens, para mim até que tudo bem pois estava curtindo estar ali, gostaria sim de ficar mais um pouco mas 2 de Maio era muito tempo então mais uma vez deixei para depois e fui caçar a Inci para conversar com ela sobre isso, porque eu poderia ficar mais certamente porque ali eu tinha paz e tinha uma pessoa querida, mas tinha que ver se era reciproco esse sentimento, e putz fui no Coffe Day e falei com o Robert que falou que ela tinha me procurado por ali, continuei circulando até que ela me achou! Ufa, eram quase meio-dia conversamos um pouco e percebi que o humor dela não estava dos melhores, expliquei ou melhor tentei explicar o que se passava pela minha cabeça e não tive a melhor das respostas, ela meio que respondeu secamente “não, você não me atrapalha, se por exemplo eu quiser ler um livro, eu vou ler o meu livro, faça o que for melhor para você”... ops... fiquei mordido na hora e decidi em pensamento “ahhhh quer saber de uma coisa, vou para Haridwar esta noite pego o trem amanhã cedo (lembrando que eu tinha passagens compradas) espero em Delhi o dia todo e me mando para Dharamsala, não vou ficar aqui aguentando rabugice de ninguém”.
E comuniquei o que iria fazer, ela permaneceu impassível; fomos em sua agência e o trem que ela queria para Varanasi estava lotado, aí o mau humor foi á mil. Aí, eu também fiquei muito mau-humorado quando o cara da agência dela não me deu atenção para ficar conversando sobre onde ela mora, onde ela estuda, e bla bla bla e depois que ela foi usar a internet o cara me deixou plantado ali para falar com um amigo... ah eu levantei bufando e só comuniquei que estava voltando ao hotel.
Voltei, depois fui rodar por outros cantos da cidade, fui na minha agência novamente perguntando sobre uma nova forma de ir (pegando o ônibus em Dehra-Dun de onde saiam 2 por dia), resolvi atravessar a ponte para saber até que horas haviam Vikrans (um tuk-tuk maior) para Haridwar (até as 22:00) e pronto era isso que eu faria.
A minha cabeça estava á mil, cheguei novamente no hotel e encontrei com Inci que me perguntou se eu queria ir almoçar, e respondi que sim e lá fomos nós. Fomos no restaurante italiano e comi uma lasagna (não esqueçam que aqui não tem carne) enquanto ela saboreava frituras vegetarianas. Conversamos assuntos mais leves porque se algum vez eu tocava em um assunto mais sério como por exemplo um ponto de vista já era motivo para discutirmos, ou seja, era melhor falarmos de coisas amenas.
Tudo isso eu entendo que é uma questão cultural, afinal nós latinos no geral somos mais sentimentais, turcos também são mas de uma forma mais dura. Mas naquele momento em que as coisas caminhavam em corda bamba, de novo fiquei puto quando ela acabou e se levantou e foi olhar uma loja que havia no fundo do restaurante. Entendem o que quero dizer com questão cultural? Na Turquia pode ser comum, mas para nós quando temos de levantar de uma mesa antes da outra pessoa terminar pedimos desculpas mil vezes, e como tudo estava meio nebuloso, ali mais uma vez me irritei mas não demonstrei, paguei a conta e disse que estava voltando ao hotel.
No caminho, fiquei pensando sobre ir naquela noite, eu não queria ir daquele jeito e também não queria andar mais Sleeper na India (as duas pernas da viagem até Dharamsala eram Sleeper). Assim meus planos mudaram pela 569ª vez naquele dia, no hotel relaxei e do nada apareceu o Kurmar (o dono do hotel) enfincou os dois polegares nos meus ouvidos enquanto os indicadores pressionavam os meus olhos e assim fiquei por uns 3 minutos que demoraram uma eternidade em outra dimensão kkkk mas ao mesmo tempo, quanta clareza; eu que vivia repetindo “vou para Dharamsala porque lá vou encontrar paz” voltei a entender naquele momento que a paz não é um lugar, a paz têm de estar em você, e partir daquele momento, depois que Kurmar se foi , eu fiquei com lágrimas nos olhos olhando para mim e procurando buscar essa paz no espirito.
Depois de um tempo tomei uma ducha, botei uma camiseta limpa e bonita por volta das 19:00 fui na cerimonia (que já devia estar acabando) atrás da Inci, mas com o coração em paz. Cheguei pelo alto e estava sentada no mesmo lugar do dia anterior e percebi que ela percorria a vista entre as pessoas como que procurando, ela fez isso umas 2 vezes enquanto estive ali, mas como estava fora do seu campo de visão procurei outro lugar.
Encostei ali, e logo fui recebido a distância com um largo sorriso, o qual retribuí da mesma forma, em cinco minutos a cerimonia acabou e nos encontramos a beira do rio, ficamos um pouco sentado ali e falamos “vamos para o Coffe Day? Nosso amigo deve estar lá!” E rumamos pelas ruas de Rishikesh desviando das mini-vacas, das motos, da bosta das vacas, das poças até estarmos no nosso conforto ocidental, logo o Robert chegou e ficamos ali por quase 3h batendo papo e comendo, muito! Fiquei empanturrado e na volta vim pensando em que já era a opção garantida de ir para Dharamsala de trem e que no hotel não tinha privaaaaaada... ferrou!
No hotel, chegamos e ficamos conversando com 3 universitarios indianos até altas horas, um deles me contou sobre que eles recebiam o equivalente á 25 reais por mês para estudar engenharia elétrica e quando contei o meu salario em dólar para ele, o queixo dele caiu para os valores indianos o que eu ganho é muito bom, mas expliquei que no Brasil era bom, mas longe de ser ótimo. Caras muitos amistosos, dei dicas sobre o Brasil e falei e porque não tentarem emprego em terras tupiniquins porque muitos setores faltavam mão de obra qualificada.
Enquanto fiquei ali conversando com eles aquela sensação de “cadê a privada?” foi aumentando mas me controlei e logo cada um foi para o seu quarto, dei “boa noite” á Inci e me recolhi aos meus aposentos.

27.04.2012 – Rishikesh

Antes do amanhecer estávamos todos acordados e por volta das 4 da matina, o trem finalmente chegou em Haridwar assim encerrando a pior viagem de trem que já fiz na vida hehehe mas a mais louca também!
Eu e Inci saímos da estação a procura de taxi e em um posto policial, Inci se informou e garantimos o nosso taxi para Rishikesh, e assim atravessamos o momento mais escuro da noite pelas estradas que levavam á saudosa Rishikesh.
Um pouco sobre esta cidade, ela está a beira do Ghanges (porém a cidade está fixada no local em que o rio sai das montanhas, então sua água é límpida e geladíssima), e ela é um centro espiritual onde se concentram muitos gurus e ashrams além de ser a capital mundial do yoga. Ficou mundialmente famosa, quando os Beatles nos anos 60 no auge do sucesso deram uma pausa na carreira e se instalaram em um ashram na cidade, junto ao quarteto ainda tinha artistas do quilate de Brian Wilson (vocalista dos Beach Boys) e Mia Farrow (aquela atriz que foi casada com o Woody Allen) e após esta experiência “transcendental” por aqui o estilo rítmico do grupo inglês mudou e logo veio o álbum Sgt Peppers considerado pela maioria dos críticos como o álbum mais importante da história do rock.
Enfim... Rishikesh! O taxi nos deixou em uma ruela e nos indicou a direção por onde deveríamos caminhar até a ponte, e no limiar da primeira luz do dia, fomos andando até chegar a esta ponte. Inci, que é praticante de yoga procuraria mais tarde um ashram para se hospedar e a principio gostaríamos apenas de um hotel para descansar.
Atravessamos as pontes e andamos pelas ruas ainda escuras da cidade, buscando nos orientar pois sabíamos que estávamos na região dos ashrams da cidade mas agora precisávamos era de uma guesthouse, nesse caminho achamos uma placa e assim fomos seguindo e já era praticamente dia quando chegamos na porta de um local chamado Pink Guest House, perguntamos o preço e só com um OK nos dirigimos á quarto que dividimos.
Dormimos cerca de 4h e logo acordamos para caçar ashrams e hotéis. E assim saímos na pernada, na luz do dia, que diferença! Rishikesh têm uma alma própria e um espirito vibrante, mais tarde volta a comentar sobre isso. Voltando á caça aos ashrams para Inci passamos em uns 3, inclusive um que é magnifico e todos LOTADOS. Ok, agora caiu a ficha e que você pode estar se perguntando “o que cargas d’água é um bendito ‘ashram’?”, mas suas duvidas acabaram porque eeeeeeu te explico.
Um ashram é uma mistura de templo, pensão, pousada e escola de yoga. Imagine um enorme jardim com quartos voltados para eles, é um local para peregrinos (independente da nacionalidade, estudarem o hinduísmo, a arte do yoga, meditarem e fazerem amizade com outros peregrinos ou se trancarem em seus quartos evitando contato com o mundo externo em busca de si mesmo. Cito duas referências ocidentais onde vocês podem ver, uma é o filme Comer, Rezar e Amar na parte em que a Julia Roberts vai para a India ela justamente vai para um ashram. E a outra referência é apenas simbólica, é musica “Dear Prudence” dos Beatles composta por John Lennon em Rishikesh em que ele convida Prudence Farrow (irmã da Mia) á sair do quarto e ver o sol brilhando do lado de fora além de seus amigos, pois a mesma só ficava enfurnada em seu quarto meditando.
Enquanto procurávamos paramos em um lugar próximo ao rio onde estava rolando uma cerimonia hindu, entramos eu fiquei lá para trás pois estava ali á titulo de curiosidade, Inci foi lá para frente (o lugar era dividido entre homens e mulheres); enquanto tocavam as musicas de celebração, o povo mais jovem saia dançando igualzinho ao Tony Ramos na novela Caminho das Indias, muito shooooow! E os caras jogavam os ombros, a mulherada também, faziam uma grande roda lá perto do palco e ficavam muito tempo dançando, mas quando acabou a parte musica e o cara começou a falar, a Inci olhou lá da frente para mim e chamei-a para sair.
Do lado de fora, Inci falou “ok, sem ashram, vamos procurar uma guest house barata para a gente ficar???” e eu claro, estava curtindo muito a companhia dela, inclusive agora falando sobre ela dá uma saudade enorme, e ao voltarmos á Pink descobrimos que ao lado ficava a pousada que ela tinha como referência. Ahhhpegamos nossas coisas e nos mandamos para lá, era sim o pior hotel que eu ficaria até esse momento, mas pô que saudades dali.
Dessa vez pegamos quartos separados, e nos instalamos e começamos uma peregrinação para achar meios de transportes para os nossos próximos destinos, perguntei em uma agencia próxima, e o cara falou que havia bus direto para Dharamsala mas eu não comprei porque queria ficar um tempo mais com Inci, ela por sua vez deixou para ver no dia seguinte a sua passagem de volta para Varanasi.
Rodamos por Rishikesh, fomos até as praias do rio onde muitos tomavam banho de sunga, mas quando coloquei o pé na agua já falei sem chance “gelaaaaada mas curtimos estar ali naquele lindo dia de sol, depois paramos em um cara na rua que fez uma tattoo de hena na Inci, estilo aquelas de noivas indianas, muito bonito! Rodamos um pouco mais e descobrimos o que seria um de nossos lugares preferidos em Rishikesh, o Coffe Day; um Café com uma decoração ocidental e poltronas confortáveis, e assim paramos para um rápido café. Perto das 18:00 rumamos para a cerimônia que aconteceria em um ghat em frente ao rio, e chegamos lá... pessoal, sou cristão, creio e muito em Deus, sempre agradeço e proteção nessa viagem; mas o jeito que os caras fazem o ritual deles é de tirar o chapéu por conta da simplicidade. Imagina uma escadaria que desce até o rio onde tem uma estatua de Shiva gigante. Você simplesmente chega e senta no chão ou nos degraus e assiste a cerim��nia, onde há vários instrumentos tocando e várias vozes cantando (lembram do Hare Krishna), então o sol vai se pondo e você está em um vale envolto por montanha verdejantes e água do rio correndo ao seu lado (no meu caso eu estava com os pés dentro d’água sentado na escadaria de mármore). O que quero dizer é que em muitas religiões principalmente no cristianismo há muita gente se perdendo confundindo adoração com sucesso, quantas vezes você vê em uma igreja acabar o culto ou a missa e todo mundo fazer uma roda em torno dos músicos, dos cantores do pastor ou do padre. Isso que achei interessante aqui, por exemplo quando o guru chegou todos respeitosamente se levantaram e ele sentou-se no meio do povo e fez parte da celebração, acabou, ele simplesmente levantou e saiu, assim como os músicos sem espaço para vaidades, para receber cumprimentos ou uma suposta ‘adoração’, foi deu a sua mensagem e saiu com simplicidade. Pois é, isso tudo é uma questão de opinião, mas a minha intenção não é levantar esse tipo de discussão, andiamo con nostro relato!
Já era noite quando acabou a celebração e rumamos ao Coffe Day para mais um café com donuts e conhecemos o Robert, um senhor alemão muito gente boa que ganha vida trazendo carros encomendados da Alemanha para o Oriente Médio, esse cara valia sempre uma boa conversa, falávamos sobre futebol, criquet, Alemanha, Brasil e Turquia, quando havíamos ido a tarde reparamos nesse senhor alemão pois havia nos cumprimentado educadamente, agora mostrava mais ainda ser um cara fantástico.
Ficamos ali um bom tempo e logo rumamos ao hotel, onde ficamos conversando no quarto de Inci e quando bateu o sono rumei para a minha cama.

sábado, 28 de abril de 2012

26.04.2012 – Expresso pela India



Despertei 5:30, meia-hora antes do despertador, um banho e pronto tudo guardado na mala. Fiz o check-out e me mandei para a estação. Cheguei cedo por volta das 7:30 e meu trem já aparecia no timetable assim como a plataforma, fui até lá para me assegurar e não é que o trem já estava por lá! Muito bem, o que me deixou mais feliz ainda é que havia uma placa dizendo Varanasi-Haridwar, ou seja, era aquele trem mesmo e eu só desceria na ultima estação... perfeito!
Procurei a classe Sleeper que enfretaria pela primeira vez e havia uma garota ocidental já ocupando um dos assentos, quando me viu ela abriu o sorriso assim como eu, ambos meio que aliviados e nos apresentamos, ela é a Inci, uma professora turca de 29 anos que mora a dois anos em Varanasi onde estuda na Universidade da cidade e que em duas semanas estará voltando para a Turquia e estava curtindo pela primeira vez umas férias de 5 dias em Rishikesh; então apesar de 2 anos morando na India, era apenas a sua 2ª viagem de trem e a primeira de Sleeper também.
Esperamos 1h parados até que as 8:30 o trem partiu e éramos os únicos ocupantes dos assentos, o que nos deixou em paz, o bate-papo foi animado, e falamos sobre as tradições e curiosidades de India, Turquia e Brasil; falamos bastante sobre namoro, sobre o jeito de ser de cada povo.
Umas 3h depois, finalmente alguém se sentou com a gente, ok! Porém umas 3h mais tarde, aí entrou uma muvuca doida e o pessoal foi se sentando aos montes, a Inci ficou incomodadíssima; até que quando chegou uma famíliae sentou em cinco no seu banco, a turca levantou sem ar e falou que tentaria trocar de vagão, para não deixa-la sozinha nessa situação fui junto. Ok, o condutor do vagão falou que impossível estavam todas as boas classes (1ª, AC2 e AC3 todas ocupadas), sendo assim optamos ficar dividindo um banquinho ao lado da porta aberta do trem e assim ficamos por mais umas 3h e isso até que a água acabou... aí foi tenso, embora estivesse fervendo matava a sede... e agora a garganta secava, um calor abafado , os lábios muito secos e a cada estaçãoque o trem parava não havia nada, nenhuma banquinha sequer de qualquer liquido.
Calculamos que em mais 2h chegaríamos em uma grande estação mas estávamos enganados, a estação chegou antes... ufa! Espero não ter abusado tanto de Inci porque como o seu inglês era perfeito e sabia muitas palavras em hindi eu preferia que ela tomasse a frente em qualquer negociação, sendo assim ela saiu e foi comprar agua pra gente, voltou com 6 garrafas e suco para a gente... ufaaaaa de novo!
O trem ficou parado meia-hora na estação, teve uma hora que entrou um sadhu e começou a querer desenhar na minha perna e levantouo pano para mostrar o saco para a Inci quando não demos dinheiro, e quando aquele pedaço do trem começou a ficar lotado de gente sentada em latas de leite decidimos voltar aos nossos lugares... só pensando Sleeper nunca mais!
Voltamos e toda a muvuca que havia ocupado nossos assentos havia mudado mas continuava lá, o engraçado é que todos os pedaços do vagão, o nosso era o mais cheio... sempre! E assim sentamos e logo liberaram a janela para nós e Inci pode tomar ar. Peguei o meu celular, tasquei a minha seleção para a India e fomos ouvindo em silencio enquanto o Sol se escondia... ficamos assim por 1h até a bateria que estava no fim acabar.
Depois de anoitecer, decidimos ler e a turca tinha a cama lá no alto, foi ler e dormir e eu... bem na minha “cama” tinha dois indianos sentados além de mim... bah! Umas 21:00 falei que queria dormir e um deles me pediu 5 minutos porque eles iriam comer... bah de novo, esse 5 minutos foram intermináveis 1h e meia. Onde todos eles comeram juntos, eram amigos indo acho que passear pros lados de Haridwar, eram gente boa mas essas coisas da cultura deles é bem difícil encarar hehehe.
Depois da demorada refeição, conseguimos montar a cama e abraçado dormi em minha mala, me levantando aos pulos sempre que passava um trem em outra direção.

25.04.2012 – Varanasi


Acordei muito bem depois de uma noite muito bem dormida, tomei uma ducha e o meu café e parti rumo ao hotel dos alemães, uma ótima caminhada até lá com a rua bem tranquila pela rua principal e quando entrei nas vielas logo estava perdido, putz, é a Veneza indiana kkkk desvia das vacas e vai para lá e “não, não é” desvia das vacas e vai para cá e “é, talvez seja”, mas o meu senso de direção não me abandonou e fui indo até que achei um ponto que reconheci da noite anterior e logo estava na viela do hotel!
Já na entrada no restaurante estavam lá os alemãesconversando com o casal australiano, e sentei para tomar uma Mirinda e bater papo, vi dois espanhóis que havia dado um “hola” no dia anterior e rapidamente eles estavam junto ao grupo. Enrolamos um bom tempo no hotel, porque o calor estava terrível para os alemães e realmente em Varanasi com exceção do deserto foi a temperatura mais pesada que peguei. Enrolamos mesmo depois que o casal australianos despediu-se e os espanhóis tiveram a idéia de tomarmos lassi (um tipo de iogurte gelado tipicamente indiano) e la fomos nós.
No caminho pelas ruelas, os europeus adoravam bater papo com as crianças e se divertiam com elas, eu por minha vez e sei lá porque me ausentei nesses momentos, engraçado que eu me lembrava do Victor, Chimyn, Jesse, Canjo e Geronimo na Bolivia quando fazíamos as mesmas coisas e agora eu não estava no clima de interagir com o povo. Continuamos pelo emaranhado de ruas e entramos em um pobre estabelecimentochamado Blue Lassi onde descobri ser o melhor lassi de Varanasi. Quase todos pedimos o de manga obviamente estando na India... enquanto aguardávamos reparei em um camundongo escalando os fios do estabelecimento no teto... ‘que beleeeeeeza’ eu pensei!
Mas quando veio o lassi... poooo que delicia! Imagina um iogurte com pedaços de manga bem gelado, nos fartamos por ali! Na sequencia andamos mais um bocado e os alemães gostariam de ver a GermanBakery que muitas placas indicavam e fomos atrás.
Como já era hora do almoço decidimos comer por ali mesmo e o engraçado que a padaria alemã era administrado por uma família nepalesa hehehe, o ambiente era muito no padrão índia mas agradável e havia muitas garotas europeias com as quais eu e Hincham nos divertíamos cantando “ai, se eu te pego!”, ficamos umas 3h dentro da GermanBakery dando muita risada, e o engraçado era que eu pedia para aos espanhóis em espanhol para me ajudar no inglês e os alemães não aceitavam e falavam para eu mesmo tentar em inglês.
Como revigora o espirito esse tipo de encontro, quando todos têm uma mentalidade semelhante e caminham em uma direção semelhante mesmo sendo de países tão distintos, foi um dos pontos altos dessa viagem certamente.
Depois como logo o Sol nos abandonaria, marchamos para o hotel deles onde os espanhóis ficaram e partimos os 3 pela saída do rio onde encontramos o Baboo e alugamos os seus serviços para navegar o Ganghes. Logo estávamos dentro do bote com o Baboo remando e nos contando a história do rio e de seus ghats e palácios. Taí um cara bacana, o Baboo; ouvíamos com atenção os seus casos e entre fotos e filmagens fazíamos perguntas dos assuntos mais variados, por exemplo, ele tinha três filhos dentre os quais eram 2 mulheres e o problema que a mais velha tinha 17 anos e já no próximo ano poderia se casar, porém segundo o Baboo ocorrem duas festas uma feita pela família do noivo e outra da noiva e gasta-se por volta de 2 milhões de rúpias nessa festa para se ter idéia pagamos cada um 100 rupias pelo passeio e uma Coca Cola custa 20 rupias por aqui.
Ok, continuamos a navegar enquanto anoitecia no Ganghes, até que chegamos na altura da cerimonia hindu que estava acontecendo no ghat ao lado hotel, assim pedimos para o Baboo não avançar mais e ficamos ali vendo a cerimonia de dentro do rio enquanto os fogos circulavam pelo ar conduzido pelos monges hindus, tiramos algumas fotos e logo voltamos a frente do hotel, pagamos ao Baboo tiramos umas fotos com ele e subimos ao hotel.
Ainda usei a internet, e como já daria 21:00 decidi voltar ao hotel pois ainda tinha uma boa caminhada até lá. Me despedir foi difícil, mas procurei ser pratico como os europeus e sem abraços fui dizendo adeus a um por um espanhóis, australianos (que estavam lá quando voltamos) e especialmente ao Toby e ao Hincham... quanta dificuldade kkkk mas faz parte! Como trocamos Facebook talvez nos reencontremos em Delhi.
E assim parti na caminhada noturna rumo ao meu hotel, dessa vez achei um atalho entre as vielas e cheguei rapidamente na rua principal onde a muvuca estava lá indo e vindo, mas um ambiente confuso e bacana! Á passos largos cheguei rapidamente e corri para lavar os pés (aposentei meu tênis, só chinelo e o pé como eu já disse fica uma fuligem só) e já tomei uma ducha, me preparei e peguei no sono porque no dia seguinte tinha um trem cedo.

24.04.2012 – Varanasi


Despertei lá pelas 7, continuei com o livro e quando faltava 1h comecei a me preparar e meu Deus... como eu sou ansioso. Esse é um dos meus defeitos ou qualidades (sei lá, depende do ponto de vista), sou daqueles que quando vai descer de um ônibus cheio, dois pontos antes já começa a se acomodar em um lugar que fique fácil descer sem atrapalhar os demais. Então desde ás 8:30 começou a duvida... será que ele vai parar no horário certo? Será que não já passou? E comecei a ficar agoniado (lembrando que o trem continua, eu iria descer em uma das suas paradas), perguntei para o pessoal mas nenhum falava inglês (ok, nem eu...), mas um senhor austero que estava sentado com sua senhora falou em inglês para não se preocupar que faltavam 40 minutos, só que aí me deixou mais ansioso porque dali quarenta minutos seriam 9:40 e no meu bilhete estava marcado 10:20... po, mas decidi não encher o saco, só fiquei atento.
Toda vez que o trem diminuía a velocidade eu pedia á Deus para ele não parar para não me confundir em nada hehehe (essa ansiedade toda era porque era o primeiro trem na India em que eu não desceria em uma grande estação e se ver o nome de uma grande estação já é difícil bagaray imagina uma menor)... mas o trem parou... mas no meio do caminho em nenhuma do estação. Assim comecei a ficar em paz porque percebi que era meio para fazer hora e dessa fora, ás 10:20 em ponto estava entrando em uma estação e o senhor austero fez que sim com cabeça dizendo o nome da estação “Munghal Sarai”, feliz da vida desci, obrigado Senhor!
Pois é, desci e agora, parei um minuto para a muvuca passar, e nisso dois europeus me viram e acenaram com a cabeça, mudando a direção e vindo até mim, perguntando se eu sabia o que fazer... eramHincham e Toby! Disse que não, mas vamos lá, e caminhamos juntos até achar os tuk-tuks e cara que alegria é ter companhia, tudo fica mais simples. Na hora de negociar o tuk-tuk, ficamos de ir os 3 juntos e fechamos um bom negocio, pois esta estação era distante de Varanasi e lá fomos nós.
No caminho fomos conversando, ambos são da Bavaria, próximo á Munique, e estavam no exatamente no mesmo espirito que eu, então a associação foi a primeira vista. Enquanto conversávamos, o motorista ia cortando e tirando finíssimas de caminhões e vacas pelo caminho e isso tudo em altissíma velocidade!Nos divertíamoshehehe como já falei antes, os pilotos aqui são muito loucos!!! E tive pela primeira vez a visão do famoso rio Ganghes e ainda passamos por cima dele na ponte mais arcaica que vi na vida, percorremos os seus quase 800m sobre tabuas soltas e placas de aço sobre as tabuas em uma velocidade absurda.
Descemos nos limites do centro antigo onde o motorista pediu perdão mas não tinha autorização para trafegar por ali, descemos e para a minha surpresa os dois decidiram me acompanhar até o meu hotel (lembrando que já estava pago e tinha de ir para lá), depois de uma caminhada de 20 minutos com calor forte e ajudada por um senhor chegamos ao meu hotel, mas era muito caro para o que eles estavam procurando, eles iriam esperar para eu ir com eles mas como o check-in estava com cara que demoraria, decidimos marcar de se encontrar dali 2h ás 14:00 na porta do hotel.
E assim com o meu check-in, estava feliz pra caramba, pô muda o espirito da gente ter pessoas na mesma ‘pegada’ que você ao seu lado. Subi ao meu quarto (bacaníssimo, mas tudo ok somente com um problema... não tem internet de nenhum jeito... bah), tomei uma ducha bem tomada, escrevi um pouco no texto que vai para o blog e desci para esperá-los.
Deu 14:10... e nada, 14:20 e nada, 14:30 e nada... putz... ferrou... mas 14:40 chegaram, pedindo para eu nem sair, para eles descansarem um pouco no ar condicionado, o principal problema deles era o calor demasiado, para mim em Varanasi estava absurdamente mais quente que os outros lugares que passei (exceto o deserto) mas estava na mesma pegada do tempo que estava em São Paulo quando embarquei para cá, então quanto ao calor, sem problemas!
Depois de uns 15 minutos, fomos andando até os Ghatse em mais 15 minutos estávamos lá. Agora, um pouco sobre Varanasi:
Aqui é simplesmente umas das 2 cidades mais antigas do mundo, ela existe entre 5 e 6 mil anos, e já foi chamada de Benares. Hoje, ela é um dos locais mais sagrados do hinduísmo, igual Meca para o muçulmano, todo hindu precisa visitar Varanasi pelo menos uma vez na vida. O seus ghats, são as famosas escadarias que adentram o Ganghes e que o hindu usa para banhar-se no rio. Em outros ghats são onde ocorrem as cerimonias funerárias e os corpos são cremados para libertar corretamente o espirito depositando os restos mortais no rio; morrer e ser cremado no rio é uma dádiva, é o ponto mais importante que pode ocorrer na existência de um hindu, e que ele possa vir ‘abençoado’ em sua próxima reencarnação. Pois é... aqui é aula de religião também kkkk.
Andamos pelos ghats e viramos atração para fotos com um grupo de jovens indianos, os alemão se divertiam com isso. Logo depois decidimos procurar um canto para comer, e putz nas vielinhas próximas aos Ghatsnos perdemos legal e acabamos indo parar em um ponto bem distante do centro. Retomamos a caminhada de volta pelas movimentadas ruas da cidade, e depois de quase 1h no total caminhando achamos um restaurante bacana. Escolhi um prato que teria um pouco de cada coisa da culinária indiana para comer e descobri que eu não gostava de quase tudo... ahhhh essa pimenta, ela que ferra com tudo! Você não sente o sabor, só a boca queimando e muito, até a Mirinda parecia estar apimentada por aqui kkk. Mas vi que gosto de pão, arroz e um trocinho amarelinho bacana hehehe, o restante deixei pela metade.
Depois do almoço fomos ao hotel dos germânicos (que por coincidência era o que eu tinha de referencia) e cara, que inveja... apesar do meu quarto e serviços serem tops, a localização e o ambiente são sensacionais. Imagina, de frente para o rio e de onde se pode ver os ghats mais famosos, ficamos ali tomando Mirinda e batendo papo, inclusive com um casal australiano que juntou-se a nós. Vimos o por-do-sol dali, bacana! E vimos a festa começar em um dos ghats.
Mais tarde após escurecer totalmente decidimos caminhar por entre os ghats, seguindo a direção apontada pelo australiano para vermos as piras funerárias.Passamos por uma bonita cerimonia religiosa e coreografada com fogo assim fomos chegando próximos, guardamos as câmeras (não se pode fotografar por aqui) e logo estávamos sentindo o clima pesado daquele pedaço do rio... é muito pesado. É um pedaço sem iluminação onde se viam 4 fogueiras acesas iluminando os feixes de lenha ao redor e as sujas escadarias.
Nessa hora, um cara saído diretamente do WalkingDead começou a contar a história para a gente e Toby olhava atentamente a explicação do homem, eu e o Himcham já estávamos ficando desconfortáveis com toda aquela situação e ficamos olhando para o lado e procurando ver a cerimonia, depois de quase 20 minutos o nosso estranho guia continuava falando quando olhamos um para a cara do outro e decidimos sair dali, estava pesado demais.
Viramos as costas e fomos andando, ah não é que o zumbi foi bem vivo na hora de pedir o dinheiro pelos seus serviços, aquilo irritou profundamente ao Richmond que ficou puto da vida resmungando em alemão (me pedindo perdão, mas ele precisava falar em alemão), a irritação é porque em um lugar onde se considera sagrado e ontem tem um dos rituais hindus mais importantes, têm um cara que quer ganhar grana ás suas custas. Nem precisa dizer que o cara saiu atrás desejando um mau carma para a gente, especialmente para Toby, na hora pedi para Deus nos livrar de todas essas palavra. Tenso!
E assim caminhamos na outra direção do hotel, onde havia acabado a poucos minutos a festa que havíamos visto do terraço do hotel, mas fomos lá conferir, e um senhor muito simpático veio falar conosco e levou uma diretaça do Himcham (verbalmente hein), perguntando qual era o negocio dele e para que pediria dinheiro, o homem sem perder o humor, disse que não queria nada só bater papo e depois de alguns minutos era isso mesmo kkkk o cara era gente boa mesmo! O alemão se desmanchou em desculpas, mas o cara sem escapar o sorriso falou sem problemas, e o cara merecia até mais atenção, mas como já estava preocupado que eu teria de voltar sozinho ao meu hotel tive de interromper a conversa.
Voltamos ao hotel dos meninos e após uma explicação do recepcionista, me enveredei pelas ruelas escuras mas movimentadas de Varanasi até chegar á rua principal, aí era um mar de gente que não acabava mais kkkk. Fui á passos largos mas tranquilo e depois de uma boa caminhada cheguei no meu hotel são e salvo e sem perder tempo subi ao meu quarto, tomei uma outra ducha e lavei os pés com vontade porque nessa tarde havia formado crostas de sujeira, e depois atualizar o texto do blog, ler meu livro e dormir...

23.04.2012 – Delhi


Acordei já sabendo o meu destino, e como Delhi queria ver só no final da viagem, fiquei lendo meu livro no hotel de onde saí só para tomar café da manhã no escritório (esse era o defeito da guesthouse, se tivesse café da manhã com internet estaria perfeito).
A tarde saí e fui ao escritório (deixando com o cara do hotel uma graninha bem a mais do que eu costumo dar de gorjeta, como disse antes bom sujeito) almoçar!
Depois do almoço, enrolei por ali e logo segui ao escritório central para pegar os bilhetes com o Pepe, quando eu os recebi... hmmmmm... li e reli, porque não havia gostado muito das disposições dos horários e em um dos trechos teria que fazer baldeação e esperar em Delhi novamente o que me deixou puto, reclamei horas com o Pepe e ele foi correndo atrás do que podia fazer... tinha trens que eu teria de pegar 6 da manhã, mas depois fui me acalmando e Pepe propôs uma solução satisfatória, caso eu achasse o bus de Rishikeshi direto á Dharamsala e cancelasse os trechos de trem ele me reembolsaria quando voltasse. Lembrei-o de que o seu motorista havia me cobrado um absurdo da viagem até o hotel e ele ligou pro cara falando um monte e me devolveu metade do dinheiro. Assim senti mais confiança.
Ficamos na agencia até umas 20:30 e como já estou de saco cheio dos tuk-tuks e seus golpes, decidi ir de metrô. No metro sem stress como havia pego uma vez sabia bem o que fazer, fui ao guichê e comprei a minha moedinha de plástico com a qual passei no leitor magnético e passei pelo detector de metais e a minha bagagem pelo raio X (fantástico kkk) e como estava na Sé deles, segui as pegadas amarela que sabia que me levaria ao meu metrô.
Por lá parecia a Sé ás 18:00, mas o metrô ficou com a porta aberta um bom tempo e coube a todos sem aperto, na estação seguinte já desci.
Beleza... agora tinha 1 hora e meia para esperar o meu trem e vocês não fazem idéia de que balburdia é em uma grande estação indiana, primeiro é o aperto e as furadas de fila para passar pelo raio X da entrada, dei uma de migué e só passei o mochilão porque naquela confusão tinha medo de colocar o meu bornal por ali e algum esperto pegar e sair correndo... enfim deu certo porque o guarda acho que nem viu, peguei de volta a minha mochila e fiquei rodando a estação por quase 1h porque havia encasquetado em achar o escritório oficial de turismo (que sabia estar fechado) só para ver o bendito e não é que nessa 1h não encontrei-o... pqp se é para ajudar turista é mais fácil colocar no Nepal... talvez seja mais fácil de achar. Desisti, estava sentindo o peso da mochila pela primeira vez nessa viagem e quando o meu trem finalmente apareceu no timetable, segui para a minha plataforma.
Lá a minha diversão foi tentar achar o meu nome na lista, só para desencargo né (vai saber...) e depois de duas boas olhadas e alguns esbarrões na muvuca aglomerada nos painéis, achei-o e á dois passos dali sentei no chão em meio á mil trocentos famílias indianas que ali estavam, um indiano esquisito sentou do meu lado na sequencia e puxou assunto (obvio) mas como não estava muito de papo e ele tbm não falava inglês, só troquei duas palavras e ele se levantou e abordou um outro grupo de indianos, no fim o que ele queria era só papo...
Aqui é difícil distinguir quem só quer amizade (indianos são amistosos, começam a conversar entre eles com quem não conhece como se fosse um amigo de infância, incrível e legal isso), quem quer o seu dinheiro (vem com papo insistentemente e já na sequencia te cobra pelo serviço kkk) e quem quer o seu mal (lembram de Mafia em Jaipur), mas esta ultima é uma exceção.
O trem chegou e procurei o meu vagão naquela minhoca gigante e logo estava no meu compartimento onde troquei o meu assento e subi ao 3º andardotriliche, como sabia que indianos gostam de conversar entre eles sem se deitar, achei mais comodo ficar no meu canto lendo o meu livro, mas claro que bati um papo de leve com dois caras.
De resto li meu livro e lá pelas 23:00 adormeci acordando umas 2 da manhã e depois disso de hora em hora kkkk mas descansei.