Acordei tarde, saí e vi que Inci já havia saído, sabia que suas aulas de yoga eram 5 da manhã mas
que voltava no máximo ás 7, mas como eram quase 10 logico que ela não
ficaria esperando a Bela Adormecida. Então deixei um recado com o Kurmar (dono do hotel) e fui na agência próxima usar a internet e perguntar sobre o ônibus para Dhramsala, chegando lá e de cara a má noticia... “eu vi para você o ônibus para Dharamsala mas está esgotado, só tem em 2 de Maio” pôôô de novo essa m... de problema com passagens, para mim até que tudo bem pois estava curtindo estar ali, gostaria sim de ficar mais um pouco mas 2 de Maio era muito tempo então mais uma vez deixei para depois e fui caçar a Inci
para conversar com ela sobre isso, porque eu poderia ficar mais
certamente porque ali eu tinha paz e tinha uma pessoa querida, mas
tinha que ver se era reciproco esse sentimento, e putz fui no Coffe
Day e falei com o Robert que falou que ela tinha me procurado por ali,
continuei circulando até que ela me achou! Ufa, eram quase meio-dia
conversamos um pouco e percebi que o humor dela não estava dos
melhores, expliquei ou melhor
tentei explicar o que se passava pela minha cabeça e não tive a melhor
das respostas, ela meio que respondeu secamente “não, você não me
atrapalha, se por exemplo eu quiser ler um livro, eu vou ler o meu
livro, faça o que for melhor para você”... ops... fiquei mordido na hora e decidi em pensamento “ahhhh quer saber de uma coisa, vou para Haridwar esta noite pego o trem amanhã cedo (lembrando que eu tinha passagens compradas) espero em Delhi o dia todo e me mando para Dharamsala, não vou ficar aqui aguentando rabugice de ninguém”.
E comuniquei o que iria fazer, ela permaneceu impassível; fomos em sua agência e o trem que ela queria para Varanasi estava lotado, aí o mau humor foi á mil. Aí, eu também fiquei muito mau-humorado quando o cara da agência dela não me deu atenção para ficar conversando sobre onde ela mora, onde ela estuda, e bla bla bla e depois que ela foi usar a internet o cara me deixou plantado ali para falar com um amigo... ah eu levantei bufando e só comuniquei que estava voltando ao hotel.
Voltei, depois fui rodar por outros cantos da cidade, fui na minha agência novamente perguntando sobre uma nova forma de ir (pegando o ônibus em Dehra-Dun de onde saiam 2 por dia), resolvi atravessar a ponte para saber até que horas haviam Vikrans (um tuk-tuk maior) para Haridwar (até as 22:00) e pronto era isso que eu faria.
A minha cabeça estava á mil, cheguei novamente no hotel e encontrei com Inci que me perguntou se eu queria ir almoçar, e respondi que sim e lá fomos nós. Fomos no restaurante italiano e comi uma lasagna
(não esqueçam que aqui não tem carne) enquanto ela saboreava frituras
vegetarianas. Conversamos assuntos mais leves porque se algum vez eu
tocava em um assunto mais sério como por exemplo um ponto de vista já era motivo para discutirmos, ou seja, era melhor falarmos de coisas amenas.
Tudo isso eu entendo que é uma questão cultural, afinal nós latinos no geral somos mais sentimentais, turcos também são mas
de uma forma mais dura. Mas naquele momento em que as coisas caminhavam
em corda bamba, de novo fiquei puto quando ela acabou e se levantou e
foi olhar uma loja que havia no fundo do restaurante. Entendem o que
quero dizer com questão cultural? Na Turquia pode ser comum, mas para
nós quando temos de levantar de uma mesa antes da outra pessoa terminar
pedimos desculpas mil vezes, e como tudo estava meio nebuloso, ali mais
uma vez me irritei mas não demonstrei, paguei a conta e disse que estava voltando ao hotel.
No caminho, fiquei pensando sobre ir naquela noite, eu não queria ir daquele jeito e também não queria andar mais Sleeper na India (as duas pernas da viagem até Dharamsala eram Sleeper). Assim meus planos mudaram pela 569ª vez naquele dia, no hotel relaxei e do nada apareceu o Kurmar (o dono do hotel) enfincou os dois polegares nos meus ouvidos enquanto os indicadores pressionavam os meus olhos e assim fiquei por uns 3 minutos que demoraram uma eternidade em outra dimensão kkkk mas ao mesmo tempo, quanta clareza; eu que vivia repetindo “vou para Dharamsala porque lá vou encontrar paz” voltei a entender naquele momento que a paz não é um lugar, a paz têm de estar em você, e partir daquele momento, depois que Kurmar se foi , eu fiquei com lágrimas nos olhos olhando para mim e procurando buscar essa paz no espirito.
Depois de um tempo tomei uma ducha, botei uma camiseta limpa e bonita por volta das 19:00 fui na cerimonia (que já devia estar acabando) atrás da Inci, mas com o coração em paz. Cheguei pelo alto e estava sentada no mesmo lugar do dia anterior e percebi que ela percorria a vista entre as pessoas como que procurando, ela fez isso umas 2 vezes enquanto estive ali, mas como estava fora do seu campo de visão procurei outro lugar.
Encostei ali, e logo fui recebido a distância com um largo sorriso,
o qual retribuí da mesma forma, em cinco minutos a cerimonia acabou e
nos encontramos a beira do rio, ficamos um pouco sentado ali e falamos
“vamos para o Coffe Day? Nosso amigo deve estar lá!” E rumamos pelas ruas de Rishikesh desviando das mini-vacas,
das motos, da bosta das vacas, das poças até estarmos no nosso conforto
ocidental, logo o Robert chegou e ficamos ali por quase 3h batendo papo
e comendo, muito! Fiquei empanturrado e na volta vim pensando em que já
era a opção garantida de ir para Dharamsala de trem e que no hotel não tinha privaaaaaada... ferrou!
No hotel, chegamos e ficamos conversando com 3 universitarios
indianos até altas horas, um deles me contou sobre que eles recebiam o
equivalente á 25 reais por mês para estudar engenharia elétrica e
quando contei o meu salario em dólar para ele, o queixo dele caiu para
os valores indianos o que eu ganho é muito bom, mas expliquei que no
Brasil era bom, mas longe de ser ótimo. Caras muitos amistosos, dei
dicas sobre o Brasil e falei e porque não tentarem emprego em terras tupiniquins porque muitos setores faltavam mão de obra qualificada.
Enquanto fiquei ali conversando com eles aquela sensação de “cadê a privada?” foi aumentando mas me controlei e logo cada um foi para o seu quarto, dei “boa noite” á Inci e me recolhi aos meus aposentos.